Sunday, October 29, 2006

No final do espetáculo


à minha amiga Odile que, desde a primeira vez que leu este texto, sempre me encontrou dentro dele.
Se ele toma um copo d'água para depois vomitar, é para ter a sensação de ter saído de dentro de si toda a dor engolida pelo vaso. Quando força de si, estragando o estômago, é porque já não agüenta mais contratos e continuar sentindo o mesmo, não ver a vida melhorar. Se vomita até as pequenas bílis de sangue, no sal adocicado da saliva dos cigarros coloridos que acabou de fumar, é porque ele ama você e nem! consegue sentir ódio de si mesmo por isso. ...e se ao deitar em pleno dia pra tentar dormir, mas não consegue; se põe no corpo a camisa velha de algodão, é porque não quer se sentir totalmente desamparado, quer sentir o carinho da mãe que não vive mais entre os bichos da terra, é que tem saudades dela. Tem saudades da proteção um dia dada por ela. De que por ser filho, nenhum mal na vida o alcançaria, que voltaria sempre pra casa e mesmo infeliz, com sua doce presença seria feliz. Se ele se deita e depois do telefonema (tão frio!tão sem futuro, dessa pretençaõ que a ele cabia) é porque ainada te quer, mas não consegue dormir e muito menos sozinho, não consegue morrer por isso.
Ele não quer mais continuar do seu lado sozinho e tão sozinho que sempre te parecerá incômodo, sempre um atrapalhado, por mais que belo, sempre um cachorro vira-lata na rua.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Texto pungente, Marcelo! Quaisquer adjetivos que eu acrescente será por isso mesmo desnecessário, porque ele é cru, despido, desprovido, desassistido. Belíssimo e dolorido!

Um beijo da amiga,

1:42 AM  
Blogger Renato Machado said...

A Beta disse tudo...

Um beijo.

6:31 AM  

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